O percussionista
Naná Vasconcelos durante Festa de Carnaval no Marco Zero na cidade do Recife
(PE), no dia 5 de fevereiro de 2016 (Foto: Pablo Kennedy/Futura Press/Estadão
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Após sete meses lutando contra um câncer de pulmão, o percussionista
Naná Vasconcelos, de 71 anos, morreu na manhã desta quarta-feira (9). De acordo
com o Hospital Unimed III, onde estava internado, por volta das 7h, o músico
teve uma parada respiratória e passou por um procedimento, mas não resistiu.
Ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde o último sábado (5), por
complicações da doença.
Naná deu entrada na unidade médica desde a segunda-feira (29). No ano passado,
o artista passou mais de 20 dias no mesmo hospital, após descobrir o câncer.
Segundo Patrícia Vasconcelos, esposa e produtora do músico, Naná passou mal
após um show realizado em Salvador, na Bahia, no dia 28 de março, com o
violoncelista Lui Coimbra. Ao retornar ao Recife, foi internado.
Naná Vasconcelos é o homenageado do carnaval 2013. (Foto: Sérgio Figueirêdo/ Prefeitura do Recife)
Em 2015, Naná também passou mal antes de um show, mas achou que não era nada demais
e seguiu com a agenda. No Recife, após uma bateria de exames, foi constatado o
câncer. "Pegou todos de surpresa porque ele havia feito um raio-x do
pulmão no ano passado (2014) e uma revisão geral há dois meses e nada foi
encontrado. Foi tudo muito rápido, um susto", declarou a esposa à época.
Ao ser liberado, pouco mais de 20 dias depois, o músico falou sobre o
desafio de enfrentar a doença. "Eu tenho essa situação, e tenho que
enfrentar com força, pensamento positivo. E vou enfrentar com o pensamento de
que eu vou chegar lá", disse no ano passado. Naná prosseguiu, então, com o
tratamento, que incluiu sessões de quimioterapia e de radioterapia, por 40
dias.
Apesar da doença, Naná participou da abertura do Carnaval do Recife no
Marco Zero neste ano na companhia de 400 batuqueiros. E seu último carnaval, o
percussionista dividiu o palco com o Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, grupo
centenário homenageado no carnaval do Recife, com o Maracatu Nação Porto Rico,
também celebrado, e com os cantores Lenine e Sara Tavares, de Cabo Verde.
Vida e obra
Apelidado de Naná pela avó, a música sempre foi a mola propulsora de
Juvenal de Holanda Vasconcelos. Ele não media palavras para descrever seu amor
e conexão com ela. Era como se a música fosse a energia, a batida, que movia o
coração do percursionista.
No ano de 1960, Naná deixou o Recife e foi morar no Rio de Janeiro, onde gravou
dois discos com Milton Nascimento. Com o cantor Geraldo Azevedo, viajou para
São Paulo para participar do Quarteto Livro, que acompanhou Geraldo Vandré no
icônico Festival da Canção.
A obra de Naná foi propagada e respeitada dentro e fora do Brasil. Ele fez
parte do grupo Jazz Codona, com o qual lançou três discos. Chegou a gravar com
B.B King, com o violinista francês Jean-Luc Ponty e com a banda Talking Heads,
liderada por David Byrne, um dos grupos precursores do movimento "new
wave". Nacionalmente, ele participou de álbuns de Milton Nascimento,
Caetano Veloso, Marisa Monte e Mundo Livre S/A.
O pernambucano também fez trilhas sonoras para filmes nacionais e
norte-americanos. Foi eleito oito vezes, por revistas especializadas em música
nos Estados Unidos, como o melhor percussionista do mundo.
Em contraponto, por sempre acreditar que a música podia transformar e melhorar
a vida das pessoas, também era um humanitário nato. Naná foi responsável por
criar diversos projetos sociais como o "Língua Mãe", que reuniu
crianças de três continentes: América do Sul, Europa e África. Naná também
defendia levar a música para dentro das comunidades carentes do Recife como
forma de incentivo à educação e cultura.
Há 15 anos, a abertura do carnaval do Recife seguia sob o comando firme e
talentoso de Naná. Com 12 maracatus, 600 batuqueiros e o coral Voz Nagô, o
marco ocorria sempre na sexta-feira de carnaval, levando magia e beleza para a
multidão de foliões. Um espetáculo que só a criatividade de Naná e a força do
carnaval pernambucano podiam criar.
Do G1