Fernando Brant, compositor e parceiro de Milton Nascimento, que morreu em Belo Horizonte
Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo (08.03.2006)
O músico, jornalista e
escritor Fernando Brant morreu às 21h40m desta sexta-feira, aos 68 anos, em
Belo Horizonte, vítima de complicações decorrentes de um transplante de fígado.
O velório começa às 10h deste sábado, no Palácio das Artes. O enterro será no
Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Brant tornou-se conhecido na MPB por
conta de sua parceria com Milton Nascimento, com quem compôs mais de duas
centenas de músicas, entre elas "Travessia".
A amizade foi um divisor
de águas na vida dos dois. Um encontro mágico. Fernando Brant e Milton
Nascimento se conheceram nos idos de 1960. Logo depois, Milton convenceu o
parceiro a escrever a letra de sua primeira música: “Travessia” surgiu em 1967
e foi um estouro. No mesmo ano, ficou com o segundo lugar no II Festival
Internacional da Canção, no Rio. A carreira do cantor mineiro decolou, e o
parceiro de fé sempre esteve por perto.
O jornalista, escritor e compositor Fernando Brant, com o parceiro Milton Nascimento ao lado, em 1980
Foto: Agência O Globo
Mas Fernando Brant era
múltiplo. Seu envolvimento com música e literatura vinha desde o curso de
direito. Em 1969, começou a trabalhar como jornalista na revista “O Cruzeiro”.
Antes, ainda como universitário, foi escrivão no Juizado de Menores de Belo
Horizonte.
Os anos 1960 foram
pródigos e marcariam profundamente a história da música popular brasileira. Em
Belo Horizonte, Brant e amigos lançaram um projeto que viria a ser a pedra
fundamental do Clube da Esquina. Ao lado de Milton e Brant, estavam nomes como
Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner
Tiso e Flávio Venturini, entre outros. A produção profícua de mais de 200
músicas que saiu dali é um passeio por clássicos como “Sentinela”, “Saudade dos
aviões da Panair (conversando no bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para
Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos bailes da vida”, só para citar
alguns.
INFLUÊNCIA DO RÁDIO
O gênio que se tornaria
o principal letrista de Milton Nascimento nasceu no interior de Minas Gerais,
em Caldas, em 9 de outubro de 1946. Fernando Rocha Brant mudou-se, aos 5 anos,
para Diamantina e, aos 10, para Belo Horizonte, onde passou o resto de sua infância
e adolescência.
Numa entrevista ao site
do projeto Museu Clube da Esquina, Brant falou da importância de suas raízes na
sua trajetória musical. “O meu pai gostava de música. Ouvia muito rádio, que
tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso, Agostinho dos
Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A primeira
vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que também
trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa nova. Quer
dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que desde pequeno,
lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio Nacional era a
TV Globo da época, então todo mundo ouvia”, contou ele em um dos trechos.
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Em outro momento, o
letrista discorreu sobre a dimensão humanística da música: “Eu acho difícil a
música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é
trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era
assim: ‘Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria’.
Era um samba que tocava na Rádio Nacional.”
Há três anos, Brant foi
diagnosticado com câncer no fígado e se submeteu a uma cirurgia para retirada
do tumor. Mas novos tumores foram descobertos este ano. De acordo com a irmã
dele, Ana Brant, o letrista passou por uma cirurgia que precisou ser refeita
cerca de 48 horas depois. Na terça-feira passada, foi submetido, no Hospital
das Clínicas de Belo Horizonte, ao primeiro transplante do órgão, mas houve
rejeição. Uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e liberando
toxinas no organismo. Os médicos buscaram novo doador e, na madrugada de
sexta-feira, Brant foi mais uma vez operado para um segundo transplante. Ao
longo do dia, seu estado se agravou.
Na noite desta
sexta-feira, pelas redes sociais, alguns artistas e amigos já se manifestavam
sobre a morte do músico. Vermelho, tecladista do grupo 14 Bis, postou uma
homenagem a Brant, citando os famosos versos do músico em “Canção da América”
em sua página no Facebook: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do
peito, dentro do coração. Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas
canções, partiu em sua travessia para outra vida. Um menino, um moleque morando
sempre em nosso coração...” Pelo Twitter, Lô Borges, seu parceiro do Clube da
Esquina, lamentou a morte: “Meus sentimentos à família desse grande e querido
parceiro e amigo, Fernando Brant”. Já o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu, em
sua página no Facebook, que o compositor era um “grande poeta. Grande
brasileiro”: “Com muita tristeza, faço silêncio neste momento, manifestando a
minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família”.
Fonte: O GLOBO